Ricardo Welbert
Durante o horário comercial, as calçadas da região central de Divinópolis ficam cheias de gente. Tanto movimento atrai a atenção de ambulantes – vendedores que atuam informalmente e oferecem vários tipos de produtos, dentre alimentos, cosméticos, utilidades, artesanatos, discos a até títulos de capitalização. Enquanto alguns pedestres criticam a presença deles, outros dão preferência para seus produtos e irritam proprietários de estabelecimentos que pagam taxas e impostos para funcionar.
Na avenida 1º de Junho, trabalha o ambulante Ailton César, de 34 anos. Natural de Belo Horizonte, há anos ele percorre municípios mineiros com sua banca de descascadores de verduras. "É um negócio que não é registrado, mas é de onde eu tiro o meu sustento. O povo gosta dos meus produtos", conta.
Vendedor empurra carrinho em ponto disputado na 1º de Junho |
Na rua Goiás, a dona de casa Natália Silva, de 43 anos, segura um tabuleiro com vários tipos de guloseimas. A mais famosa, ela vende no grito: "Aô, bombom! Aô, bombom!"
Enquanto espera por um ônibus, a lavadeira Maria das Graças, 55, conta que prefere os produtos oferecidos pelos ambulantes. "Eles costumam ter muita coisa interessante, com preços muito bons. Além disso, a gente sabe que é um trabalho honesto, que eles fazem para sustentar a família".
"Honesto, não", questiona Reinaldo Chagas, 30, dono de uma lanchonete. "A gente paga um monte de taxas para funcionar e sofre fiscalização pesada, enquanto esse pessoal sem alvará vende as mesmas coisas que a gente, só que sem procedência e a preços muito baixos", critica.
A opinião do comerciante é reforçada pelo presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), Rogério Aquino. "Esses aventureiros, vindos de outras praças, dão prejuízo ao nosso comércio quando oferecem produtos de procedência duvidosa e não pagam impostos", diz.
Fiscalização
A diretora de Meio Ambiente da Prefeitura, Sílvia Ribeiro, diz que a fiscalização contra o comércio ilegal ocorre semanalmente. Ela explica que nem todos os ambulantes são irregulares. "Aqueles que possuem a licença são autorizados a circular com seus produtos, mas não a montar um ponto fixo na via", explica.
Quando os fiscais constatam irregularidades praticadas pelos comerciantes, apreendem os materiais e lavram uma multa cujo valor varia de R$ 226,80 a R$ 567. O ambulante tem prazo de 60 dias para retirar a mercadoria, mediante o pagamento do valor. Em caso de reincidência, o custo dobra. Quando produtos alimentícios são apreendidos, após 24 horas um laudo é emitido pela Vigilância Sanitária e o produto é descartado.
Mobilidade
De acordo com o presidente da Associação de Deficiente do Oeste de Minas (Adefom), Reginaldo Couto, a ocupação de calçadas por vendedores ambulantes prejudica a acessibilidade. "A presença de bancas de produtos, assim como de caixas descartadas por lojas, dificulta a vida de quem usa muletas ou cadeira de rodas. Ressalto que os passeios são um bem público elaborado para servir a todos", diz.
Geraldo Ferreira usa muletas, mas não se incomoda com a presença de ambulantes nas calçadas |
Sérgio Silva é cadeirante e diz que o que mais prejudica sua acessibilidade são os buracos nas calçadas |
Reportagem originalmente publicada no jornal "Agora" de 7 de fevereiro de 2013.
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