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7 de set. de 2011

Analisando o Jornal Nacional

Resolvi publicar aqui no blog um resumo da análise que fiz para a disciplina de Jornalismo Eletrônico I da Fundação Educacional de Divinópolis (Funedi). Meu objeto de estudo aqui foi o Jornal Nacional, da TV Globo. Programa do gênero jornalístico (telejornal), apresenta notícias em notas, reportagens e séries especiais. Utiliza, quando conveniente (e muito raramente), recurso de entrevista ao vivo, no estúdio, com autoridades (como candidatos a presidente, ministros, governadores e técnico da seleção em dia de divulgação da escalação para a Copa do Mundo, por exemplo).


William Bonner e Fátima Bernardes entrevistam a então candidata à presidência da República, Dilma Rousseff

O principal objetivo do Jornal Nacional é mostrar as notícias mais importantes do dia no Brasil e no mundo com clareza, isenção, pluralidade e correção. William Bonner, editor-chefe e apresentador do programa, coloca o seguinte em seu livro Jornal Nacional Modo de Fazer
“O Jornal Nacional é um programa jornalístico de televisão. Por ser jornalístico, apresenta temas comuns aos jornais impressos, aos programas jornalísticos de rádio, aos sites da internet e voltados para notícias e, em parte, às revistas semanais de informação. Por ser um programa de televisão, procura apresentar esses temas com a linguagem apropriada ao veículo: com um texto claro, para ser compreendido ao ser ouvido uma única vez, ilustrado por imagens que despertem o interesse do público por eles – mesmo que não sejam temas de apelo popular imediato”. 
Ou seja: a redação é instruída a escrever para todos, de forma quase que coloquial, de modo que todos compreendam bem as mensagens. Desde o lavrador analfabeto até o mais alto mestre universitário.

Livro de William Bonner, lançado em 2009
O JN é parte integrante de um veículo invejado por todos os seus concorrentes: a Rede Globo de Televisão. Apresentado ao vivo da capital do Rio de Janeiro, o programa tem equipes de reportagem à sua disposição em praticamente todos os estados do país. Além do corpo de profissionais no Rio e em São Paulo, participam do JN os jornalistas das emissoras afiliadas. Chega a milhões de lares que recebem sinal com antenas comuns ou parabólicas, além de canais a cabo que transmitem a Globo. 

Considerado o mais importante noticioso do país, o JN coloca a Globo em um patamar de audiência na maioria das vezes bastante acima da concorrência. Todo mundo assiste. Todo mundo sabe que começa às 20h15, depois da novela, de segunda à sábado. O programa faz parte do dia-a-dia das pessoas – e isso não muda. O trabalhador chega em casa após a longa jornada de trabalho e sabe que, naquele horário, encontrará os apresentadores e suas notícias desde que tenha um televisor que funcione. 

No âmbito comercial, é um dos programas mais lucrativos da emissora – praticamente seu carro-chefe. Basta observar o cacife de quem aparece na abertura, nos intervalos e no fechamento do jornal – apenas clientes grandes, com contas grandes. É, pois, o telejornal de maior audiência – onde a informação de credibilidade acontece. Logo, é o mais procurado pelos anunciantes. 

Uma edição do programa tem em média 33 minutos líquidos (um tempo que não inclui os intervalos, portanto), normalmente divididos em quatro blocos – que podem sofrer alterações de acordo com o “valor notícia” do que é mostrado. As imagens, textos e diálogos são intercalados de modo que não haja perca de tempo. Retomo as explicações de Bonner:
Cada sílaba dita, pronunciada, consome tempo. E nesse tempo têm de caber mais ou menos 25 assuntos, de variadas maneiras: em reportagens apresentadas por seus autores (os repórteres); em entrevistas com pessoas comuns, com ritmos próprios de fala; em notas lidas pelos apresentadores e ilustradas por imagens; em notas curtas sem apoio de imagens; e em entradas ao vivo de repórteres. 
11 de setembro de 2001: uma edição histórica

Exemplo de como o "valor notícia" é determinante pode ser visto na edição de 11 de setembro de 2001.


Tempo é tudo

Baseado na leitura do livro citado, digo que existe, sim, uma linearidade de introdução, desenvolvimento e conclusão. As notícias mais importantes, como ocorre na maioria dos (bons) telejornais, vêm primeiro. Furos, a menos que seja em uma revista eletrônica como o Fantástico, não podem ficar sendo deixados para o último bloco, pois o telespectador que está acompanhando a abertura do telejornal pode não estar mais presente na sala ao final. Sem falar que, depois de assistir aos destaques nas manchetes, a concorrência pode conseguir a informação e divulgá-la primeiro enquanto o JN estivesse vagando por outras pautas.

William Bonner e Fátima Bernardes no estúdio do JN
Os pontos altos do programa são justamente seus furos e reportagens exclusivas ou factuais que impõem necessidade de atenção ao público. Questões como dramaticidade e envolvimento do noticiário com o telespectador variam muito de acordo com o que está em pauta. No caso de grandes tragédias, por exemplo, percebe-se a preocupação constante com o humano, número de vítimas, seguido pelo prejuízo gerado, etc. O posicionamento destas notícias no espelho também varia bastante, pelos mesmos critérios de noticiabilidade.

O JN, porém, utiliza um critério interessante ao observar que um tema que talvez esteja causando alto impacto (audiência) a algumas pessoas, pode estar sendo cansativo para outras. Nessa medida, quando uma reportagem e seu assunto se encerram, pode haver a introdução imediata de temas mais leves ou alegres como previsão do tempo, cultura e futebol. Exatamente para agradar a todos os que estão diante do televisor. 

O JN trata das notícias mais importantes do dia no Brasil e no mundo. Três dos principais temas em jogo são (a meu ver): política nacional, política internacional e economia. A respeito de quem fala, penso que são as Organizações Globo. Isto porque que as notícias são esquematizadas em critérios de importância definidos pela família Marinho (e que, inclusive, foram divulgados recentemente como uma espécie de “princípios editoriais”). Quando o assunto diz respeito a algo que convém à família dona deste conglomerado de mídias, ganha destaque – mesmo que para os brasileiros, de uma maneira geral, o fato não tenha “nada a ver”. Exemplo disso é a morte de algum famoso amigo da família ou certos escândalos políticos que envolvam adversários dos detentores do poder midiático da instituição. 

Estas pessoas que falam nas entrelinhas estão, como expliquei, no alto comando da emissora (em cargos de chefia como direção e comando geral de jornalismo). Nenhuma sílaba do que vai ao ar pelo JN entra sem o crivo do alto escalão. Logo, há conivência com aquilo que se comunica. Se ferir os objetivos da empresa, não é exibido. Simples assim. 

Voltando ao que é ensinado no livro de William Bonner, as pessoas que fazem o JN acontecer estão ali para mostrar as principais notícias do Brasil e do mundo. Os métodos de produção jornalística são conhecidos pelos comunicólogos. A maior parte do que os apresentadores dizem está escrito para eles lerem no teleprompter. A apresentação é feita por duas pessoas (que, de segunda à sexta, costumam ser o casal Bonner e Fátima Bernardes) em estilo “ping-pong”, com cada um lendo uma chamada ou trecho da notícia.   

A produção audiovisual contém vinhetas, textos exibidos em gráficos animados e poucos efeitos sonoros. A distribuição do texto em relação às imagens possui a qualidade que, sabemos, é característica marcante do telejornalismo da TV Globo. Narrativas de alto profissionalismo, muito bem encaixadas e intercaladas com aquilo que o telespectador vê. Eu diria que o que mais caracteriza a sonorização do programa é a trilha sonora (Lá/Dó Lá Dó Ré/Ré# Ré Ré#Ré Dó Lá (um arranjo da canção The fuzz, do músico americano Frank DeVol)). Esta composição sonora marca a narrativa do JN de forma perfeita. Não há brasileiro que não reconheça de longe a vinheta. Nas idas e vindas do intervalo comercial, o “tcha-nan-nan-nan-tchan-tchan-tchan-tchan-tchan” é o sinal de que a notícia está prestes a ser anunciada – o que suga a atenção do telespectador.


Escalada e abertura da edição de 8 de abril de 2011

A “sintaxe” das sequências narrativas variam de acordo com os critérios de importância já mencionados. Porém, nenhum segundo é perdido. Se uma reportagem tem dez minutos de duração, cada um deles é carregado de informações sem dúvida importantes para o total entendimento por parte do telespectador. O cenário é composto pela bancada, com dois lugares, um globo giratório e a redação ao fundo, possibilitando ao telespectador um pouco de visão dos bastidores do programa. Uma imagem perfeitamente preparada, uma vez que existe um grande conjunto de telas ao fundo que compõem os símbolos que ilustram o assunto tratado pelos apresentadores. Entre um assunto e outro, a câmera focaliza apenas os rostos dos apresentadores, de modo que a equipe técnica tenha tempo suficiente para trocar a imagem exibida ao fundo. Recentemente, estes profissionais erraram ao mostrar a bandeira de um país quando as reportagens tratavam de outro.


William Bonner corrige erro cometido por alguém da equipe técnica

Quanto aos movimentos de câmera, percebo detalhada sincronia entre as muitas câmeras do estúdio. O (a) apresentador (a) vira-se para um lado e é focalizado pelo equipamento para o qual se voltou. Gira a cadeira para outro rumo e é filmado de modo que o painel verde logo atrás entre em cena para que a equipe de efeitos visuais insira ali um gráfico animado. A sincronia é quase sempre perfeita. Digo quase sempre porque, por se tratar de um programa transmitido ao vivo, vez ou outra ocorre de o apresentador ser filmado de lado, a imagem tremer um pouco ou o âncora ficar com cara de bobo, esperando que o texto apareça para ele ler. Problemas técnicos que, no Jornal Nacional, são criteriosamente verificados e apurados pela equipe de produção – e que podem, facilmente, resultar em punição para o responsável. 

Conclusão

Pelo fato de esta análise ser pessoal, deixei-me levar pelo (digamos) “fascínio” que nutro pelo jornalismo da Rede Globo de Televisão. Tenho minhas críticas, claro, mas ainda assim o jogo de (e entre) equipes, equipamentos disponíveis e a estrutura que permite chegar a um determinado lugar até mesmo antes da concorrente local empolgam qualquer estudante de jornalismo. O Jornal Nacional é líder em audiência e, certamente, continuará sendo porque boa parte de sua massiva audiência atual não é composta apenas por senhores e senhoras acostumados a acompanhar o programa desde que ele estreou. Crianças e adolescentes também se postam no sofá, atentos ao que o “tio @realwbonner” (forma como o apresentador William Bonner se identifica no microblog Twitter) está falando. Há 40 anos no ar, o JN inova e se renova a cada dia, na velocidade dos novos dispositivos tecnológicos que permitem ação e recepção mais rápidas e eficientes. 

O dia em que William Bonner retweetou uma mensagem deste blogueiro

6 comentários:

Anônimo disse...

Ameei! Agora eu quero ler este livor... Rsrs

Ricardo Welbert disse...

Recomendo que leia mesmo, Tatiana. É um livro fantástico, bibliografia básica para estudantes de comunicação. Você nunca mais vai assistir telejornal do mesmo jeito. Abraço!

Anônimo disse...

"O JN é parte integrante de um veículo invejado por todos os seus concorrentes: a Rede Globo de Televisão" Nesse trecho, parece que a rede globo de televisão é um modelo de carro e o JN um opcional!

"Todo mundo assiste." Eu não.

"O programa faz parte do dia-a-dia das pessoas – e isso não muda." Cuidado com as generalizações.

"onde a informação de credibilidade acontece." Acredito que os outros telejornais da emissora trabalham com o mesmo nível de credibilidade!

Seu texto é bom, mas é meio "vai e vem".Poderia ter seguido uma lógica mais racional, o que facilitaria sua leitura.

Abraço.

Ricardo Welbert disse...

Obrigado pela opinião, "Anônimo"!

Anônimo disse...

Anônimo
"onde a informação de credibilidade acontece." Acredito que os outros telejornais da emissora trabalham com o mesmo nível de credibilidade!

Tudo bem que os outros telejornais trabalham com o mesmo nível de credibilidade. Porém, na minha opinião, a credibilidade do Jornal Nacional é ainda maior. São matérias que viram assunto entre amigos no dia seguinte...

Anônimo disse...

É MUITO LEGAL MESMO,REALMENTE É RECOMENDÁVEL QUE TODOS LEIAM,PRINCIPALMENTE ESTUDANTES DE COMUNICAÇÃO.