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5 de abr. de 2013

Delegacia retifica números repassados


A reportagem abaixo foi publicada no jornal Agora de 5 de abril de 2013, um dia após a publicação, no mesmo veículo, de uma reportagem minha sobre o aumento no número de furtos e roubos de veículos em Divinópolis. No dia em que a matéria circulou, fui convidado para uma reunião na delegacia, na qual três delegados explicaram que os números fornecidos pela própria Polícia Civil estavam errados. 

Chamada de capa para a reportagem (foto: reprodução)
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Da Redação

A constatação de que os casos de roubos e furtos de veículos em Divinópolis triplicaram em dois anos, publicada ontem pelo Agora, repercutiu nos bastidores da delegacia regional de Polícia Civil, em Divinópolis, de onde partiram as informações que basearam a reportagem. Com base em uma planilha obtida na tarde de quarta-feira (3), no Centro de Processamento de Dados (CPD) da própria instituição, o texto apresentou a variação nos supostos registros de furtos e roubos de veículos, entre 2010 e 2013.

Depois de ler a reportagem, o delegado que apura ocorrências de furtos e roubos de veículos em Divinópolis, Gideilson Almeida Contão, convidou o repórter Ricardo Welbert, autor do texto, para uma reunião na delegacia, da qual participaram outros dois delegados da casa.

Para começar, o delegado regional, Fernando Vilaça, explicou que a tabela fornecida à reportagem apresentou números computados a partir do mês de junho de 2010. Por isso, na opinião dele, não seria correto comparar a soma dos números deste período com os de 2011 e 2012, que incluem registros de janeiro a dezembro. O que a reportagem fez foi somar as informações de 2010 e compará-las aos anos seguintes, deixando claro que os percentuais foram extraídos da tabela fornecida.

O delegado regional, Fernando Vilaça, afirmou que números de tabela não são exatos (foto: Ricardo Welbert)
"Ao lidar com números delicados como estes, é preciso ter ferramentas bem mais sofisticadas do que as que temos em nossa delegacia. As melhores fontes de informação são os delegados titulares de cada tipo de caso, pois são eles que lidam diariamente com os processos de investigação", disse.

Foi preciso esclarecer que o delegado Gideilson Almeida Contão foi procurado em sua sala pela reportagem, que buscava balanços dos crimes de furtos e roubos de veículos na cidade entre 2010 e 2013. Foi ele quem sugeriu buscar as informações no CPD. Porém, na avaliação do delegado Leonardo Pio, que investiga crimes de trânsito, os dados também envolvem casos de apropriação indébita e furtos em veículos. Este detalhe, porém, não consta no documento fornecido ao jornal. 

"Furto de veiculo é a subtração do automotor, não sendo o mesmo localizado. Furto em veículo é aquele furto casual, em que o automóvel é aberto e, de dentro dele, são furtados um ou mais objetos", disse o delegado. 

Leonardo Pio explicou que furto "a" veículo não é o mesmo que furto "de" veículo (foto: Ricardo Welbert)
Ao lembrar que a estatística referente ao ano de 2010 mostra apenas casos registrados a partir de junho, a Polícia Civil deixa claro que, se a composição de dados tivesse sido feita durante todos os dias daquele ano, incluindo furtos e roubos 'de' e 'a' veículo, a incidência de crimes naquele ano seria comprovadamente maior. Isto, de fato, altera a comparação feita pelo jornal entre os números de 2010, 2011, 2012 e 2013. 

Com um exemplar do jornal de ontem em mãos, o delegado Gideilson Almeida Contão afirmou que, pela análise dos dados informados pelo CPD, não é possível concluir que um veículo é roubado a cada 12 horas em Divinópolis, conforme a principal manchete da capa.

Gideilson Almeida Contão explicou que planilha fornecida inclui outros crimes (foto: Ricardo Welbert)
"Na verdade, é possível que, a cada 12 horas, um veículo esteja envolvido em alguma ocorrência, que pode ser acidente de trânsito, roubo, furto, apropriação indébita, ou falta apropriação indébita, fato atípico que ocorre em uma relação entre casal. Talvez, a interpretação destes dados tenha sido equivocada, apesar de que, de forma global, a pesquisa revela um certo número. Mas, quando você vai refinar e revisar essa pesquisa nos devidos detalhes, no que é especificamente furto e roubo de veículo, temos uma redução nos furtos e roubos de veículos", argumentou.

A conclusão de que um veículo é roubado a cada 12 horas em Divinópolis foi feita a partir da soma dos dados informados na tabela fornecida pelo CPD da Polícia Civil, que mostra 730 casos de furtos e roubos consumados de veículos em Divinópolis, apenas no ano de 2012. Dividindo-se o número pela quantidade dias do período, chegou-se à média de dois registros por dia. Ainda conforme o delegado, na realidade, não é possível afirmar que os crimes de furtos e roubos de veículos, em Divinópolis, aumentaram entre 2010 e 2012.

"Estes dados estão estabilizados. Tanto é verdade que, na delegacia de furto e roubo de veículos, da qual sou titular, de janeiro até agora temos uma média de 100 inquéritos concluídos, nos quais identificamos as pessoas autoras do furto, do roubo ou da receptação. Encaminhamos isso à justiça. Deste universo, temos, mais ou menos, sem ser preciso, cerca de 80 pessoas efetivamente presas, que já aguardam julgamento", disse o delegado Gildeilson.

O delegado também criticou o uso do termo 'roubado' na manchete de capa ('Um veículo é roubado a cada 12h na cidade').

"Se a tabela fornecida classificou os crimes como 'furtos' e 'roubos', não seria possível dizer que um veículo é 'roubado' a cada 12h. Embora os leigos no assunto não saibam diferenciar 'furto' de 'roubo', nós, que entendemos disso, sabemos que não é bem assim", opinou.

Como o jornal Agora não é uma publicação segmentada a profissionais do direito, mas a pessoas de todas as classes sociais e profissões, a equipe de redação optou por usar o termo 'roubado' na manchete de capa por entender que o dicionário 'Aurélio', um dos mais respeitados no Brasil, classifica 'roubado' como 'objeto de roubo, furto ou afano'. O texto publicado abaixo da manchete de capa esclareceu, com base nas informações fornecidas, que dois veículos são 'levados por ladrões' a cada 24h na cidade. Além disso, para não deixar o leitor 'leigo no assunto' sem explicação, a reportagem publicada na página seis traz um quadro com o título 'entenda a diferença', que explica o significado jurídico de 'furto' e 'roubo'.

Reportagem originalmente publicada no jornal Agora de 5/4/13 (foto: reprodução)
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