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25 de fev. de 2012

O poeta José Antônio de Freitas


Pitangui é um município conhecido por ter muitos artistas talentosos. Um deles é José Antônio de Freitas, de 63 anos, um dos melhores poetas da região. Nesta quinta-feira (24), ele recebeu-me em sua casa, no bairro Gameleira. Pude ver de perto os muitos troféus, certificados, diplomas e medalhas que conquistou com seu trabalhos.


Como visitante curioso que sou, comecei a reparar nos detalhes a partir da entrada. Na parede externa, a poesia do proprietário: "A casa que nos aquece e na qual muito me amarro, tão humilde até parece casinha de joão-de-barro".


Marcamos minha visita para as dez da manhã. Cheguei no horário marcado e lá estava meu personagem. Feliz, contou-me uma engraçadíssima piada de loira que acabara de ler no jornal. Rimos juntos. Continuei esquadrinhando o cenário à procura de curiosidades. Percebi o quanto José Antônio gosta de ter o lugar em que mora decorado com o que lhe agrada. Poesias suas aparecem pintadas nas paredes, expostas em quadros, panos e papéis desde a porta da sala até a janela do quarto.


Enquanto me mostrava seus livros e declamava poemas, fui perguntando algumas coisas e anotando. José Antônio de Freitas nasceu em primeiro de janeiro de 1949. Conta-me que sempre gostou muito de ler e escrever. Foi redator do jornal Município de Pitangui e colaborador assíduo de várias publicações maiores.


Como já morou em várias cidades do Brasil, ele relata (com os olhos brilhando), teve contato direto com grandes nomes da literatura nacional. Faz questão de destacar a pessoa de Murillo Araújo (que encontrou em São Paulo) e J. G. de Araújo Jorge, no Rio de Janeiro.


Freitas conta que seu grande incentivador na arte de compor poesias foi o já falecido poeta cearense Eno Theodoro Wanke, que considera seu padrinho literário.


José Antônio de Freitas se orgulha de possuir cerca de duzentas congratulações (entre troféus, medalhas, diplomas e placas de prata conseguidas em concursos de poesias ou em reconhecimento pelos seus trabalhos culturais). É também compositor. Músicas de sua autoria foram gravadas em parceria com o maestro Espedito Marciano e com a dupla sertaneja regional Nilda e Nicilda.


O acervo de fitas e CDs que tem em seu quarto e escritório também surpreende. Freitas executa no aparelho de som alguns poemas que gravou para o programa radiofônico Saudade não tem idade, exibido pela Ativa FM, e fala sobre a vontade que tem de apresentar um programa cultural. "Eu queria apresentar um programa no qual pudesse recitar poesias sobre Pitangui e contar as histórias da nossa gente".


Em vista de suas premiações, conhece boa parte do Brasil. Recentemente, esteve em Bandeirantes, no Norte do Paraná, e em Nova Friburgo, na região serrana do Estado do Rio de Janeiro. É filiado à União Brasileira de Trovadores (UBT) e representa a instituição em Pitangui. Já promoveu no município sete edições dos Jogos Florais (concursos de trovas a nível nacional). Essas competições sempre trazem poetas e trovadores de vários lugares, aquecendo o turismo.


Apesar de ser apaixonado pela poesia, viver apenas dela em Pitangui é difícil. Na “vida prosaica”, José Antônio de Freitas é funcionário público estadual. Exerce desde três de outubro de 1975 a função de inspetor de alunos na Escola Estadual Professor José Valadares. Com tanta experiência, sempre faz alguns outros trabalhos dentro da tradicional unidade de ensino.


José Antônio de Freitas publicou livros que tiveram excelente aceitação (principalmente entre críticos de literatura). Ele lamenta, porém, que um certo pitanguiense tenha afirmado a ele, uma vez, que a cidade não possui bons poetas e escritores – razão pela qual ninguém (nem mesmo os órgãos públicos) se aventura a patrocinar obras de artistas da terra.




























O autor protesta dizendo que se alguém ou algum órgão público se interessar em investir no povo local, descobriria grandes talentos. “É preciso investigar, conhecer realmente o que uma pessoa é capaz de produzir”. Para ele, dizer que Pitangui não possui bons poetas e escritores é o cúmulo do absurdo. “É desconsideração, por exemplo, ao talento de um Marcos Antônio de Faria (Barrica)”.


Mudando de assunto, Freitas diz que possui escritos que ninguém conhece ainda. Exemplo é o livro Toda poesia, com cerca de duzentas páginas, nas quais expõe seus melhores trabalhos – muitos tratando unicamente de Pitangui, bem como sua História, sua gente, seus costumes, tipos populares, etc. “É um livro que, acredito, fará sucesso quando for publicado, pois o escrevi de todo coração e com todo amor que tenho à terra em que nasci”, ele diz.


"Sonhar é bom. Mas para fazer a ideia se tornar realidade, é preciso apoio financeiro. “E cadê o patrocínio? Sozinho, com meus pouco recursos, não consigo publicá-lo”, lamenta. 

Reconhecimento

Apesar de tantos obstáculos, José Antônio de Freitas é reconhecido na cidade. Pitanguienses ilustres manifestaram publicamente a admiração pelo poeta. 

“Desde rapazinho, é o legítimo sucessor de Bahia de Vasconcelos. Refiro-me a José Antônio de Freitas, que considero o poeta-mor da atualidade poética em Pitangui” (Geraldo Guerra em Coisas que acontecem, publicado no jornal Estado de Minas, de Belo Horizonte, em 16 de julho de 1986)

“Continue a sua caminhada poética com ternura e muito amor, buscando a paz, sonhada por você, não só para engrandecer Pitangui, que tem, na sua poesia, um dos maiores poetas da terra” (Tasso Lacerda Machado)

“Diante de sua poesia, José Antônio, cabe-nos render-lhe homenagem como grande poeta pitanguiense” (Maria José Valério Calderaro Teixeira)

“Nós, pitanguienses, nos orgulhamos de você e de sua participação social através da poesia” (Maria de Lourdes Teixeira Viegas). 

O poeta segue

Durante a visita a José Antônio de Freitas, mal percebi o tempo passar, pois tamanho era seu vigor em recitar para mim suas melhores criações – a maioria delas sem sequer olhar o papel. Poderia dar-me a folha e seguir me dizendo, verso por verso, tudo o que está escrito nela. Eu, que já nutria certa admiração por seu trabalho, fiquei ainda mais fã. Pude perceber o quanto este alegre senhor realmente entende de composição literária. Sabe tudo sobre metrificação e composição textual. É impressionante!


Também, pudera. Freitas conta-me que estudou a fundo a literatura poética. “De que adianta ter apoio financeiro e não ter conhecimento sobre o próprio trabalho?”, pergunta.


Antes de terminarmos a conversa, me pediu para lhe dizer um tema qualquer para que pudesse compor, ali mesmo, de improviso, alguma coisa. Pensei... pensei... (quase entrei em pânico porque nenhum tema me vinha à mente)... pensei e pedi que produzisse algo em homenagem a todas as pessoas que, à sua forma, lutam pela preservação da História de Pitangui. 

O resultado: 

“Quem luta por ter História
a cidade em que nasceu, 
bem merece ter a glória
que hoje tem e merece!”. 

É de encher os olhos, os ouvidos e o coração!

Pergunto se existe diferença em produzir sob encomenda ou esperar pela inspiração. Ele responde: “quem escreve por encomenda, pensa no dinheiro. Quem deixa a inspiração falar mais alto, pensa no efeito que aquilo poderá causar no coração das pessoas”. 

Veja mais fotos da visita ao poeta 





















































Reportagem e fotos: Ricardo Welbert 

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