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14 de fev. de 2014

População debate insegurança nas ruas

Moradores cobram presença de polícia e Acasp fala em mudança de leis; PM admite sensação de impunidade 

Ricardo Welbert

A Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) divulgou, na semana passada, um balanço dos crimes ocorridos em 2013, nas cidades mineiras com mais de 100 mil habitantes. Comparado com o ano anterior, Divinópolis teve redução de 21,21% no número de homicídios, o que deixa a cidade fora da lista das mais violentas. Nas ruas, porém, os números parecem passar despercebidos, pois muita gente diz ter medo de ser vítima de criminosos enquanto caminha pelas vias.

Encontro ocorreu em sala do colégio Roberto Carneiro

O assunto vem sendo debatido em muitas esferas e a necessidade de mudanças em leis que permitem a soltura quase imediata de criminosos foi tema de reunião na Associação Comunitária para Assuntos de Segurança Pública (Acasp). 



Segundo o assessor de comunicação da entidade, Júlio César Corrêa, o foco do encontro esteve na cobrança de medidas em âmbito nacional. "Representantes de bairros e de diversos órgãos de segurança do município discutiram a respeito de uma posição, no sentido de exigirmos uma postura séria do Congresso Nacional para mudar leis que permitem que criminosos sejam soltos tão logo são presos. Precisamos nos unir localmente para cobrar esse interesse nacional", explicou. 


Para o professor universitário Leo Santos, presidente da Associação Comunitária do Centro, o primeiro passo para reduzir a violência é buscar conhecimento. "A segurança social é resultado de uma ciência da qual muitas vezes não queremos nos apropriar ou mesmo gastar nosso tempo em busca dela. Precisa-se de engajamento, de opiniões, da construção coletiva. O simples pagamento de impostos não é suficiente para garantir o Estado de Direito com o qual sonhamos", aponta.

O assessor de comunicação do 23º Batalhão da Polícia Militar (BPM), Marco Paulo Gontijo de Oliveira, justifica que a redução nos índices de homicídio no município é resultado de um trabalho feito ao longo de anos. "Conseguimos esta redução em 2013, mas é um trabalho que continua. Nossa preocupação é transformar esses números em sensação de segurança, demonstrando que por mais ainda haja registros de homicídios e crimes contra o patrimônio, o número absoluto de registros tem diminuído", explica. 

Ainda segundo o capitão, a flexibilidade de leis que permitem a soltura acaba por desmotivar até os policiais. "O sistema criminal no Brasil é bastante falho. Em princípio, desmotiva. Mas não podemos deixar de trabalhar. Não vamos cruzar os braços por causa disso. Temos um esforço para contornar essa dificuldade, até porque não depende só da PM", esclarece. 

O delegado regional da Polícia Civil, Fernando Vilaça, participou da reunião. Ele aprova o papel da Acasp como canal para centralizar opiniões e direcionar demandas e lideranças políticas. "O que se discute não é a questão de mudar leis, porque não seria tão fácil. É questão de o Estado se estruturar para a execução de penas, para que sejam leis mais rigorosas e que tenham uma estrutura para que sejam cumpridas. Nossas leis são perfeitas na teoria, mas não são cumpridas na prática. Como não se cumpre, a manifestação precisa partir da sociedade", diz.

Insatisfação

A vendedora Flávia Camargos Nascimento, de 25 anos, trabalha em uma loja na avenida 1º de Junho, região central, e diz que não se sente segura. "Percebo que não há policiais, em quantidade suficiente para garantir a segurança na cidade toda. Já presenciei dois assaltos e, em ambos, os policiais demoraram tanto a chegar que os bandidos tiveram tempo de sobra para fugir", relata. 

O corretor de imóveis Márcio Donizete Couto, 37, conta que perdeu a sensação de segurança quando foi assaltado durante o dia, na praça do Santuário. "Veio um moleque, me ameaçou com uma faca e pediu minha carteira. Enquanto ele fugia, olhei em volta e não tinha sequer um policial. Liguei para o 190, mas eles demoraram tanto que fui embora sem fazer o registro. Tenho medo de que isso se repita", conta.

PALAVRA DE ESPECIALISTA: Márcio Lara
Sociólogo, mestre em Educação, doutor em Ciências da Religião e professor na Faced.


Arquivo pessoalNovamente a questão da insegurança pública está em pauta. Agora, o assunto é a reunião da Acasp, em que se discutiu o sentimento de insegurança da população frente ao cenário de violência. Para ter dados mais precisos seria necessário fazer uma pesquisa junto à população para perceber este sentimento. Mas a impressão que tenho é de que, em Divinópolis, a situação não é muito diferente dos grandes centros do país. Ao transitarmos pelas ruas e praças, tropeçamos em usuários de drogas e mendigos em um número que nos assusta. A população não sente segurança em caminhar por estes locais, sossegada, principalmente à noite, pois corre o risco de ser assaltada. Tenho notícias de pessoas mais próximas que tiveram suas casas invadidas em plena luz do dia, raptos simulados de pessoas da família e abordagens ao sair de agências bancárias. Os furtos e roubos fazem parte do cotidiano da população e são muitos os que já colocam algum dinheiro no bolso prevendo um possível assalto. A polícia, por mais que se esforce, não tem o poder de transmitir sentimento de segurança, pois está sobrecarregada e não pode estar em toda parte. Os chamados para socorro em situações de emergência muitas vezes são ineficazes. Quando a polícia chega, o bandido, agressor ou ladrão já escapou, não por sua culpa, mas não consegue estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Para isso, precisaria ser melhor estruturada pelos nossos governos. Penso que não se trata de ser uma cidade mais ou menos violenta, mas constatar que a violência é uma realidade alarmante, uma doença crônica que afeta todas as sociedade e continuará a afetar até que se invista em políticas públicas, que propiciarão mais igualdade social e distribuição de renda. Este cenário é, para mim, o da “terceira guerra mundial”. Impossível pensá-la no universo restrito de Divinópolis.

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