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5 de out. de 2009

Fugindo à regra

Não faz meu estilo copiar textos da internet e colar aqui no blog. Porém, passando pela página virtual do jornalista Ilídio Martins, encontrei algo emocionante a tal ponto que eu quis copiar e trazer pra cá.

"ATENTADO DE 11 DE SETEMBRO - Joe Salgado estava nas Twin Towers - NÃO SEI PORQUE FUI DOS ESCOLHIDOS PARA VIVER E OUTROS FORAM ESCOLHIDOS PARA MORRER© - Ilídio Martins/Luso-Americano, 19 de Setembro de 2001

Eram 7:45 da manhã do dia 11 de Setembro quando José Salgado entrou a porta do escritório do First Union. Lembra-se de estar "um dia maravilhoso", da excelente visibilidade para a Estátua da Liberdade e que nesse dia fazia 35 anos que chegara à América.Natural de Orense, Espanha, José Salgado (Joe, para os amigos) era uma das 44 pessoas que, diariamente, trabalhava no escritório que ocupava metade do 43º andar da Torre Um do World Trade Center (WTC) deste Maio deste ano, altura em que o First Union se transferiu para o local.

Actual vice-presidente do Lar dos Leões de New Jersey, onde foi um dos fundadores da Secção de Futebol Juvenil, Joe Salgado iniciou praticamente o seu dia de trabalho às 8:30 com uma reunião de rotina.

O MUNDO VAI ACABAR - Quinze minutos depois da reunião ter começado, um Boeing 767 da American Airlines com 81 passageiros e 11 tripulantes a bordo colidiu, por alturas do 80º andar, precisamente com a torre onde se encontrava a trabalhar e... tudo mudaria: "De repente ouvi uma explosão. Toda a gente que estava no escritório caiu. Houve gritos do género "o mundo vai acabar". Levantámo-nos, olhámos para as janelas e vimos bancos, malas e outras partes do avião passar em frente às nossas janelas. Fugimos para debaixo das mesas. Depois levantámo-nos e tentámos comunicar com o Port Authority [entidade que supervisiona o WTC], que não sabia o que se tinha passado. Depois começou a cheirar a combustível", recorda Joe Salgado.

O sistema interno de som, por onde todos esperavam uma informação, permaneceu mudo. As luzes de emergência também não funcionaram. Aperbendo-se do fumo e aparentemente entregue à sua sorte, Joe Salgado resolveu agir. A primeira medida foi molhar um rolo de papel e colocá-lo na boca para respirar melhor. Depois, juntamente com os colegas, deslocou-se para as escadas e começou a descer, em fila, por uma escada com pouco mais de um metro de largura."Os que desciam formaram uma fila do lado da parede. Do lado de dentro subiam os bombeiros e desciam as pessoas acidentadas, nomeadamente as pessoas com queimaduras", explicou Joe Salgado.

PÂNICO NA TORRE - Mas o pior estava para vir. Dezoito minutos após a colisão do voo da American Airlines na Torre Um proveniente de Boston e que deveria ter seguido para Los Angeles, um segundo Boeing 767, este da United Airlines, colidia com a Torre Dois por alturas do 40º andar."Quando chegámos ao 23º andar sentimos o impacto do segundo avião. Vi caír um dos bancos do avião com duas pessoas sentadas e o que me pareceu ser parte de um motor. Aí é que ficámos realmente a saber que algo de muito grave se passava. E começou a instalar-se o pânico. Houve gente que tentou passar para a frente, empurrões, pessoas que começaram a discutir. Enfim, uma confusão incrível", recorda Joe Salgado.

Entretanto, o fumo e o calor não paravam de aumentar e havia muitas pessoas com falta de ar. Joe ajudaria a destruir uma máquina de onde retirariam água e sumos com que humedeceram as gargantas e que lhes serviu de alívio durante alguns minutos.Joe Salgado recorda que, apesar da confusão incrível e de tudo o que estava a acontecer, "houve bastante ordem". E não se esquece do papel dos bombeiros, sempre a subirem e a procurarem salvar mais uma vida: "Costuma-se dizer que os bombeiros têm uma vida boa mas quando se vê uma coisa destas fica-se realmente com uma visão completamente diferente."E continuou a descer, agora mais depressa. No 15º andar esperava-o mais uma "ratoeira": "Contrariamente ao que acontecia nos andares de cima, os "sprinklers" (borrifadores) estavam a funcionar [a deitar água] e foi necessário ter muito mais cuidado porque o chão estava cheio de água. Caí por três vezes".

Depois de ter ajudado duas mulheres com sérios problemas de respiração a instalarem-se em cadeiras de rodas e a serem evacuadas pelos serviços de socorro, Joe Salgado viu, finalmente, a porta da rua. Exactamente 40 longos minutos após o embate do primeiro avião.

CENÁRIO DANTESCO - Eram 9:33 quando Joe Salgado abandonou aquela "torre do inferno". Já na rua, começou por abraçar alguns colegas que já tinham conseguido saír. Depois ouve a polícia a mandar sair toda a gente dali o mais depressa possível. Só aí é que se apercebe do cenário dantesco à sua volta: pessoas a lançarem-se das torres, paramédicos a recolher pessoas sem braços, gente com a cabeça partida, um bombeiro que tenta tirar uma pessoa debaixo de um carro e quando o tentou arrastar ficou com um braço na mão. Enfim, cenas terríveis que jamais esquecerá.

Após ter caminhado dois quarteirões na companhia de três colegas, Joe Salgado ouve um polícia a ordenar-lhe que corra e não olhe para cima. Mas Joe Salgado olhou e viu tudo a cair. Começou a correr o mais depressa que pôde: "Nunca pensei que fosse capaz de correr tanto e tão depressa e sinto que, se não tivesse sido capaz de correr tanto, não me teria conseguido salvar", disse.Mas ainda apanhou aquela enorme "bola" de poeira que toda a gente viu na televisão: "andei de gatas durante uns cinco minutos, com grande dificuldade para respirar".

Depois sentiu que alguém passou por ele e lhe deixou uma garrafa de água. Tirou a camisola, rasgou-a em pedaços, molhou-a e começou a limpar a cara para conseguir ver melhor o que se passava à sua volta. Depois ofereceu os restos da camisola a quem estava à sua volta e apercebeu-se que tinha perdido o contacto com os colegas. O pó foi levantando e foi avançando para a Brooklin Bridge, agora ao lado de uma senhora que lhe calhara como companheira de tragédia e que, pouco depois, seria recolhida por um táxi. Quase no final da ponte é a sua vez de ser recolhido por um táxi, que já trazia dois passageiros da área da tragédia e que o deixaria, juntamente com um engenheiro que se encontrava na 79º andar da mesma torre e que também ia para New Jersey, perto da Varrazano Bridge.

FAMÍLIA EM PÂNICO - Entretanto, cerca de 50 pessoas, entre família e amigos, aguardava na sua residência num ambiente de grande ansiedade qualquer sinal de Joe Salgado que, devido aos enormes problemas nas comunicações que se verificaram nesse dia, só conseguiria contactar com a família mais de três horas após o choque do primeiro avião.O drama acabou por ter um final feliz. Mas Joe teve muitas dúvidas que assim terminasse, especialmente enquanto aguardava a sua vez de saír. "Duvidei muitas vezes que conseguisse sair dali com vida. Eu só pensava nos meus filhos. Só queria ter um telefone nessa altura para poder falar com a família, para lhe dizer que não sabia se ia sair dali".

Três dias depois do pesadelo, Joe Salgado confessa que teve sorte, muita sorte. E que, embora pouco praticante, é católico: "Não sei porque fui dos escolhidos para viver e outros foram escolhidos para morrer. Mas sinto que tenho que ir mais à igreja."

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Fotos: internet.


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