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9 de ago. de 2008

Shhh... Ela pode!


Com um cabelo repicado e repleto de reflexos, um imenso laço de tule na cabeça e um pavoroso par de luvas sem dedos, Madonna surgiu em 1983 com seu hit “Holiday”. Dois anos depois, um editor da revista Billbord, a bíblia americana da música, sentenciava em uma entrevista à Time: “Cyndi Lauper sobreviverá por um longo tempo, enquanto Madonna deverá estar fora do negócio nos próximos seis meses”. Poucos prognósticos poderiam ser tão equivocados. A nova-iorquina Cyndi Lauper esteve no encalço de Madonna até 1986, quando lançou True Colors. Depois, como rege o ciclo do pop, pulverizou-se. Madonna desafiou a volatilidade desse gênero ávido por novidades. Cada vez que os críticos – e não foram poucos – anunciavam que ela estava vencida, Madonna criava um novo jogo. No dia 16, novamente será estrela de um espetáculo improvável: fará 50 anos preparando-se para mais uma turnê e será festejada por jovens em festas marcadas nas grandes cidades de todo o mundo. Em 7 de setembro, Madonna completa 25 anos no papel de maior diva pop do planeta.

A garota morena nascida no subúrbio de Bay City, Michigan, filha de uma família de oito irmãos, perdeu a mãe aos 6 anos vítima de câncer de mama. O pai queria que ela fosse advogada ou tivesse qualquer outro tipo de profissão “respeitável”. Para satisfazê-lo, ela cursou um ano de faculdade... de Dança. Em menos de um ano, ela abandonou a faculdade e foi para Nova York. Lá, aprendeu a tocar bateria para compor suas músicas. Vivia participando de audições, das quais ela mesma conta que com freqüência era cortada, para espetáculos da cidade.

O que aconteceu depois de 1984, com o lançamento do disco Madonna, das músicas “Like a Virgin” e “Material Girl”, o mundo sabe. Uma seqüência de sucessos, recordes de vendas de discos e tours que rodaram o mundo com bilheterias astronômicas. Hoje, a Material Girl que parecia satisfeita com carros, diamantes, rapazes de braços fortes, trajando um look Marilyn Monroe, é tão poderosa a ponto de alterar o Royal Movement londrino (tráfego aéreo real), quando decide que quer chegar à Inglaterra, onde mora atualmente, antes ou depois do programado.

O que a fez tão poderosa? Para o especialista em música pop José Emílio Rondeau, a resposta é simples: o videoclipe. “Madonna surgiu junto com o nascimento do videoclipe e, mais precisamente, com a MTV americana, o que é um marco para a história da música contemporânea”. Em 1994, o escritor Norman Mailer, um dos criadores do “novo jornalismo” americano, escreveu para a revista Esquire: “Madonna transcende o que faz como compositora ou cantora. Ela é a primeira artista do videoclipe, o que provavelmente será a única e mais popular forma de arte nos Estados Unidos”. Com esse instrumento, diz, ela soube transformar-se em uma marca, como uma empresa duradoura que se reinventa a cada nova campanha de marketing.

É provável que cada polêmica na carreira da diva pop tenha sido friamente calculada. “O beijo no santo negro, enquanto a cruz queimava, em ‘Like a Prayer’, a cena da masturbação, em ‘Like a Virgin’, da turnê Blond Ambition, e até o beijo na boca de Britney Spears, no Video Music Awards de 2003, nada ali foi por acaso”, diz Rondeau. Para ele, Madonna hoje é uma marca tão forte como a Coca-Cola. No mundo da música, ela só pode ser comparada a Mick Jagger, que em 2010 deverá estar no Brasil com nova turnê dos sexagenários Rolling Stones.

Se David Bowie é o camaleão do rock, Madonna é a representação desse bicho no pop. Ao contrário de seu contemporâneo Michael Jackson, Madonna se reinventa a cada disco. Enquanto o prodígio dos Jackson Five mergulhou numa egotrip, criando Neverland e escândalos com criancinhas, Madonna conseguiu captar o que havia de novo em cada época. Desde um novo corte de cabelo até definir o corpo com power yoga ou moldar o espírito em centros de cabala, tudo o que ela faz vira moda. “Não há quem esqueça o espartilho com seios em cone criado por Jean Paul Gaultier para ela, mas o mundo não sabe o que esteve na passarela na última coleção dele”, diz o professor de História da Moda João Braga, formado pela École Supérieure des Arts et Techniques de La Mod (Esmod). Um exemplo recente de como Madonna influencia o comportamento das pessoas deu-se no show The Confessions Tour, na música “Jump”. Ela pôs bailarinos para saltar obstáculos no palco. E deu fama mundial ao parkour, uma modalidade de esporte radical criada na França que consiste em saltar obstáculos urbanos como prédios, árvores ou muros.

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